QUEM É DEUS PARA VOCÊ?

Houve Tarde e Manhã
15 min readApr 20, 2021
Uma das várias imagens que relaciona o desfile da Gaviões da Fiel em 2019 (imagem superior) como causa gatilho da ira de Deus que impediu o acontecimento do carnaval em 2021 (imagem inferior)

Esse tweet do atual Ministro do Turismo é só uma dentre as várias imagens de conteúdo semelhante que invadiram as redes sociais entre os dias 13 e 16 de fevereiro de 2021, período em que, normalmente, celebrar-se-ia o carnaval. Ou seja, por conta da pandemia que ainda assola o planeta após mais de 2 milhões e 400 mil mortes (sendo quase 240 mil no Brasil, isto é, 10% das mortes no mundo, sendo somente 2,4 % da população global), a festa foi ou adiada ou cancelada em todas as cidades brasileiras, e, diante disso, alguns “irmãos” estão atribuindo o ocorrido a uma vingança da parte de Deus por ter sido, supostamente, zombado em um dos desfiles das escolas de samba no ano anterior [1]. Não se surpreenda. Essa ideia (ou imagem) de quem Deus é e como ele age não é incomum no meio evangélico brasileiro, muito menos nova. Falaram o mesmo do Titanic, de Cazuza, de Tancredo Neves… [2] Veja, por exemplo, esse vídeo antigo de Marco Feliciano em um grande congresso pentecostal:

Trecho resgatado pelo canal do youtube do jornal Estadão

Esse é um trecho muito conhecido de uma pregação do “presidente da Igreja Assembleia de Deus Catedral do Avivamento, conferencista internacional, escritor, cantor” e, hoje, deputado federal Marco Feliciano em um grande congresso pentecostal. A interpretação religiosa que ele faz do assassinato de John Lennon e da morte acidental dos Mamonas Assassinas pressupõe uma imagem de quem é Deus e de como ele age, imagem essa semelhante a conservada por Machado Neto. Um deus ditador, tirânico, profundamente vingativo, violento, e ególatra, essa é a imagem que diversos cristãos evangélicos têm de Deus.

Este artigo não tem por objetivo discutir esses acontecimentos, mas usá-los como ponto de partida para refletirmos sobre posturas religiosas doentias que temos assumido ao longo do tempo. Por isso, deixemos de falar dos outros e passemos a falar de você. Como você responderia a pergunta do título deste artigo? Com quais características você descreveria Deus? Como você imagina Deus? Qual imagem tem dele? Quem é Deus para você? Várias imagens são possíveis. Essa questão é de suma importância, pois, todos nós concebemos uma imagem de Deus em nível subconsciente, e a imagem que temos de Deus, determina a relação que temos com ele e com o outro.

Por exemplo, em nome da reverência e do respeito, os mais antigos se referiam a Deus, nas músicas e nas orações, usando, majoritariamente, o pronome “tu” e chamando-o de Senhor. Em nome da intimidade e da proximidade, às novas gerações já se referem frequentemente a Deus usando o pronome “você” e dirigem-se a ele como objeto de sua paixão avassaladora [3]. Também não é incomum irmãos e irmãs já idosos imaginarem Deus como uma pessoa sem nenhum senso de humor, por enxergar o humor como antônimo à santidade e à seriedade de Deus. Já nas novas gerações há, no Brasil, pastores famosos que falam sobre Deus e sobre a Bíblia de maneira bem humorada [4]. As imagens mudam de acordo com o tempo e o espaço (contexto socio-histórico-cultural) e de acordo com a tradição religiosa. Quem imagina Deus como alguém sério, a ser reverenciado e temido, ora de um certo jeito, canta músicas com uma certa linguagem e se relaciona com ele com uma postura completamente diferente de quem o imagina como alguém brincalhão, com quem tem intimidade e por quem está apaixonado. Afinal, a imagem que temos de Deus, determina a relação que temos com ele.

Igualmente, a atuação política da bancada evangélica, as pautas de sua preferência e o apoio quase irrestrito ao atual presidente do Brasil são sempre relacionadas à imagem de um deus que escolhe e determina os governos e se impõe mesmo sobre aqueles que não crêem nele. Um deus que “passa por cima” de tudo e todos. Um deus com “mãos de ferro” e que está sempre do seu lado da história. Ora, não seria essa a mesma imagem de Deus cultivada pelos europeus que, com violência, colonizaram a América? [5]

Um exemplo mais corriqueiro dessa realidade é a narrativa comum de relações familiares e de amizades desfeitas (ou, pelo menos, enfraquecidas) quando alguém se “converte” e passa a frequentar os programas eclesiásticos. É comum o fim das amizades ditas “do mundo” e a mudança da forma de se portar perante alguém de confissão religiosa diferente por crer que Deus não ama esse alguém como ama e prefere os da sua própria confissão religiosa. Essas práticas têm sua origem em uma imagem de deus como alguém cheio de preferidos, exclusivista e anti social. Portanto, a imagem que temos de Deus, determina a relação que temos com o outro. [6]

O PODER DAS IMAGENS

Não só a imagem que temos de Deus é determinante nas nossas relações com ele e com o outro, mas as imagens em geral têm a capacidade de dirigir a nossa vida.

Ao tratar da verdade na teologia e na Bíblia, em diálogo com “estudos atuais na área de cognição” sobre “como os seres humanos chegam a conhecer” [7], Ênio Mueller traz a tona que há três aspectos da verdade: a verdade como conhecimento superficial (consciente cognitivo), a verdade como conhecimento profundo (inconsciente cognitivo) e a verdade como existência (jeito de viver) [8]. A verdade como conhecimento superficial “é a exatidão de determinadas formulações em contraste com outras” (p.18). Já a verdade como conhecimento profundo “refere-se às metáforas básicas que moldam nossa apreensão do que compreendemos como verdade” (p.18). Ele explica:

“Estas metáforas são como que estruturas subterrâneas que dirigem e organizam nosso pensamento. As formulações dos nossos pensamentos, que dão origem aos discursos, às doutrinas e às teologias, vêm organizadas a partir de certas metáforas fundantes que presidem as formas como pensamos.” (2005, p.18). [9]

São exatamente as metáforas fundantes, isto é, as imagens que presidem nossos pensamentos (inconsciente cognitivo — verdade como conhecimento profundo), que vão conectar as proposições (consciente cognitivo — verdade como conhecimento superficial) à vivência prática (jeito de viver — verdade como existência). A relação entre imagem e verdade se dá no âmbito do inconsciente cognitivo, e é o que pode fazer alguém se portar no mundo de forma integrada e coerente com aquilo que crê racionalmente. A verdade enquanto conhecimento profundo é o elo entre o que se pensa e o que se vive, “é deste nível profundo [da verdade] que emana, por sua vez, a dimensão existencial da verdade, em que a verdade deixa de ser predominantemente uma questão de conhecimento e se torna uma questão de modo de existência, de jeito de viver” (p.20). Resumindo, a imagem tem o poder de integrar o que pensamos ao que fazemos, o que cremos ao como vivemos.

James K. A. Smith, resgatando uma antropologia bíblica, em dialogo com Santo Agostinho e com a ética das virtudes de Aristóteles, mostra que o ser humano não é, fundamentalmente, um ser pensante, mas um “animal desejante” ou litúrgico, um ser teleológico [10]. Ao invés de sermos aqueles que dizem “penso, logo existo”, somos os que dizemos “desejo, logo existo”. Isso não é difícil de se provar, basta lembrar o número de vezes que, por mais que, racionalmente, tivéssemos informações suficientes para nos convencer a começar uma dieta ou mudar algum hábito ruim, continuamos vivendo da mesma forma. Na verdade, o que nos move realmente a fazer algo é o que queremos/desejamos no nosso interior. É isso que acontece quando alguém, por medo de perder a vida e desejo de permanecer vivo, ao receber um diagnóstico médico ruim, muda “do dia para noite” sua alimentação e seus hábitos de modo geral. O que conduz nosso jeito de viver não é o que decidimos racionalmente, mas o que desejamos (muitas vezes inconscientemente), pois o centro orientador da vida humana, como vemos na Bíblia, é o coração e não a cabeça [11]. Então ele diz:

“Ser humano é ser estimulado e orientado por alguma ideia da boa vida, por alguma imagem daquilo que consideramos que seja ‘florescer’. E nós queremos isso. Ansiamos por isso. É por isso que nosso modo mais básico de orientação para o mundo é o amor. Somos orientados por nossos anseios, direcionados por nossos desejos. Adotamos modos de vida que correspondem a tais visões de boa vida, geralmente não porque ‘ponderamos cuidadosamente’ nossas opções, mas, sim, porque determinada imagem atrai nossa imaginação” (2017, p.32). [12]

Todos nós buscamos, de alguma forma, “ser alguém na vida” ou “vencer na vida”, orientamos nossa rotina a partir disso e tudo por conta da imagem que temos a respeito do que é ser alguém/vencer na vida, seja essa imagem popular/comum ou particular/especialmente nossa. É disso que Smith está falando. Resumindo, a imagem tem o poder de orientar nossas rotinas, nosso estilo de vida, nossos sonhos e desejos e, no fim das contas, quem nós nos tornamos.

Tanto o teólogo luterano brasileiro (Mueller), quanto o filósofo reformado-carismático canadense (Smith) resgatam o lugar vital das imagens e da imaginação para orientar nossa forma-de-ser no mundo. A partir de seus escritos percebemos que as imagens têm o poder de integrar o que cremos e pensamos ao nosso estilo de vida e nossa postura diante dela; e que as imagens têm o poder de direcionar nossa rotina, educar nossos desejos e, por fim, formar uma identidade em nós. [13] Logo, isso confirma que: a imagem que temos de Deus determina nossas relações com ele e com o outro (nosso estilo de vida e nossa identidade também), por isso, esse é um tema tão importante.

A INEVITABILIDADE DAS IMAGENS

Estabelecidos esses pressupostos a respeito do poder das imagens, é bom que se faça uma observação: é inevitável relacionarmo-nos com a realidade e, especificamente, com Deus a partir de imagens (símbolos). Não podemos acessar a essência de quem Deus é e, junto a isso, nos relacionamos com ele por meio da fé, não por meio do que vemos (Hb 11.1). Logo, tudo o que falamos e pensamos sobre Deus, falamos e pensamos por analogia, ou seja, falamos e pensamos em Deus a partir de categorias compreensíveis a nós, mas que são, necessariamente, reduções (ou acomodações) da realidade de quem Deus é.

Feita a observação, chegamos onde deveríamos e fecharei aqui a afirmação que defendo ao longo deste artigo expandindo-a uma última vez: A imagem que temos de Deus determina nossas relações com ele e com o outro, tem o poder de guiar nossa forma-de-ser no mundo e forjar em nós uma identidade, e, precisamente por isso, determina a qualidade do nosso testemunho, isto é, da nossa presença missionária no mundo. Essa discussão tem implicações teológicas, éticas, psicológicas e missionais. Portanto, precisamos ter cuidado com a imagem de Deus que cultivamos, precisamos avaliá-la e, então, reafirmá-la, aprimorá-la ou substituí-la.

AVALIANDO A NOSSA IMAGEM DE DEUS

Em primeiro lugar, precisamos de imagens fiéis de Deus, imagens verdadeiras, para que não caiamos em idolatria. Por isso, precisamos das imagens reveladas pelo próprio Deus. Nós, cristãos, partimos do pressuposto de que Deus revelou a si mesmo e o conhecimento que temos dele está de acordo com nosso acesso a essa revelação divina. Se Deus não se revelasse não poderíamos conhecê-lo. Ele escolheu se mostrar a partir de suas ações na história (criação, libertação, Lei, profecia, e etc.) [14]. De maneira especial, no relacionamento com Abraão e o povo judeu. De maneira plena na pessoa de Jesus de Nazaré, o Cristo prometido e enviado, que encarnou, viveu, serviu, sofreu, morreu, ressuscitou, ascendeu e voltará em glória [15]. E de maneira viva por meio do Espírito Santo que testemunha à Igreja. As revelações históricas na caminhada com o povo de Israel e em Jesus Cristo, nós hoje acessamos por meio dos testemunhos autoritativos, judaicos (AT) e apostólicos (NT), inspirados pelo Espírito Santo e preservados pela Igreja que são as Escrituras Sagradas, a Palavra de Deus. Entretanto, Jesus é testemunhado também, misticamente, pelo Espírito Santo, na vida da Igreja (tanto no presente quanto em sua história) e no coração dos fiéis. Para conhecermos a Deus e encontrarmos imagens dele que sejam justas e verdadeiras, portanto, precisamos assimilar o que todas as Escrituras nos comunicam a seu respeito, mas, principalmente, em Jesus Cristo, o centro e plenitude de toda a revelação escriturística [16], sempre, em diálogo com o testemunho que o Espírito Santo comunica a nós, Igreja de Cristo, ao nos iluminar graciosamente e promover nossa união verdadeira com o Filho. Só assim encontraremos imagens fiéis e verdadeiras de Deus.

Em segundo lugar, o que encontramos nas próprias escrituras, mas também pelo que a experiência histórica como humanidade já nos ensinou, as imagens de Deus, até mesmo para serem fiéis e verdadeiras, precisam ser amorosas e graciosas, isto é, promotoras de vida. Em nome da fidelidade a Deus e luta pela verdade, muita violência já foi justificada na história da humanidade, inclusive dentro de territórios cristãos e de igrejas cristãs. Aconteceram desde “guerras santas”, passando por condenações à fogueira e indo até às colonizações. Imagens de Deus que são coniventes com a colonização são um problema ético, além de um problema teológico. Essas imagens não podem ser preservadas, devem ser substituídas por imagens que sejam, ao mesmo tempo, fiéis e amorosas, verdadeiras e graciosas. O Deus da Bíblia age/se revela na história, no relacionamento com Israel, em Jesus Cristo e na Igreja, sempre promovendo a vida. Tendo em mente essa inclinação violenta da religião, é necessário que o bem estar do outro e a promoção da vida no universo sejam, apesar de redundantes, evidenciados junto da fidelidade e a verdade. Logo, precisamos de imagens fiéis e verdadeiras, mas também amorosas e graciosas de Deus.

PROMOVENDO UM TESTEMUNHO FIEL E AMOROSO

Deus é identificado pelos israelitas como aquele que é cheio de amor/misericórdia/graçahesed — e fidelidade/verdadeemeth — (Êx 34.6), e o discípulo amado testemunha que Jesus, o Cristo, veio do Pai cheio de graça — charis — e verdade — aletheias — (Jo 1.14). É nessas duas expressões, fundamentalmente, que Deus revela sua glória no mundo. Enquanto filhos/as de Deus e discípulos/as de Jesus temos uma tarefa: guiados e iluminados pelo Espírito e como junto a comunidade da fé, precisamos analisar e, então, reafirmar, aprimorar ou substituir a imagem que temos de Deus de modo que ela seja fiel às Escrituras e misericordiosa para com a criação. Imagens como as de Feliciano, Machado Neto e outros, são violentas e idolátricas. Devemos resgatar imagens biblicamente verdadeiras de Deus e substituir as imagens violentas por imagens graciosas de Deus, em favor da preservação da vida (valor inegociável em todas as Escrituras). Só assim, no fim das contas, prestaremos testemunho fiel e amoroso de Jesus Cristo no nosso mundo, no nosso tempo e nos lugares onde formos. Coisa que esses senhores são incapazes de fazer. A imagem que eles têm de Deus determina as relações absolutamente problemáticas que eles têm com Deus e com o próximo, guia sua forma-de-ser no mundo e forja sua identidade de modo a serem insensíveis em relação a Deus e ao próximo (resultado bíblico da idolatria, cf. Sl 115.4–8, 135.15–18, Is 1.28–31, 6.9–13).

Este é o plano de Deus para a humanidade e que precisamos ter sempre em mente: que sejamos sua imagem e semelhança no mundo (Gn 1.27), seus representantes, e quanto mais da identidade de Cristo (semelhança), a imagem perfeita de Deus (Cl 1.15), é forjada em nós, mais de Deus nós testemunhamos (imagem) no mundo e cumprimos nossa missão, tornando-nos sinal presente do Reino futuro, glorificando a Deus em tudo.

Deus se revela de modo pleno em Cristo e de modo especial nas Escrituras, para que nós, corpo de Cristo e leitores das Escrituras, testemunhemos a Deus no mundo ao nosso redor. Deus nos chamou para revelá-lo! E que revelação é essa que comunicamos ao nosso mundo? Qual a qualidade e relevância dessa revelação? Deus quer (e vai) fazer cumprir seu plano e nos convida a participar. Por isso, retornamos ao nosso questionamento original: Como você imagina Deus? Qual imagem tem dele? Quem é Deus para você? A resposta dessas perguntas é de suma importância, pois determina as suas relações, sua vida, sua identidade e, por fim, a qualidade do seu testemunho no mundo. O mundo precisa do único, verdadeiro e gracioso Deus e ele quer se revelar através de você. Portanto, analise e, se necessário, aprimore ou substitua a imagem que você tem de Deus por uma imagem verdadeira e graciosa, pois ela revela, no fim das contas, não a identidade real de Deus, mas a sua.

NOTAS

[1] Em 2019 a escola de samba Gaviões da Fiel em seu enredo sobre Santo Antão levou à avenida uma comissão de frente com uma encenação de luta entre Jesus, o Diabo e seus anjos, luta essa em que a crucificação foi vista como uma vitória (mesmo que parcial) do Diabo e, consequentemente, do mal contra o bem. No canal G1 e no app Globo Play você encontra o desfile completo em imagens e vídeos (basta uma busca rápida no Google para encontrar extraoficialmente, em vários outros canais na internet). Essa imaginação maniqueísta não é em nada diferente do imaginário neopentecostal presente em parte dos movimentos com ênfase em batalha espiritual, entretanto, ver algo assim e feito em um ambiente visto como impuro, gerou bastante polêmica a ponto de haver ameaças de morte, fake news sobre morte dos atores e exigências de retratação. Veja aqui uma entrevista com o idealizador da comissão e entenda a situação. E aqui, veja um vídeo que exemplifica a forma como as pessoas têm enxergado a ausência do carnaval como punição de Deus.

[2] Veja aqui uma matéria sobre esses e outros exemplos.

[3] A música “Abro mão” (2003), e as mais recentes “Só quero ver você” (2011), “Quando a luz se apagar” (2015) e “Quero Conhecer Jesus” (2017), são bons exemplos desse movimento progressivo de que estamos tratando. Compare, por exemplo, alguma dessas canções com canções de ministérios como Vencedores por Cristo, Grupo Logos, de autores como Asaph Borba e Adhemar de Campos, ou, para ficar ainda mais evidente, de hinos do Cantor Cristão ou qualquer outro hinário antigo e ficarão claras as mudanças de que estou tratando aqui.

[4] Hoje temos pastores que pregam usando muitos recursos humorísticos (como o pastor Cláudio Duarte) e também humoristas “gospel” que fazem stand up comedy voltado para o público evangélico (como o humorista Jonathan Nemer).

[5] Veja aqui um texto com temática semelhante a deste artigo e que cita alguns exemplos teológicos da época das colonizações. Esse texto é parte do segundo capítulo do livro “Sinners In The Hands of A Loving God”, de Brian Zahnd.

[6] Ao longo do livro de Jó, encontram-se várias imagens de Deus no imaginário das personagens e que determinam a posturas delas em relação a ao próprio Deus, as circunstâncias e as outras personagens. O pastor batista Alonso Gonçalves trata disso em uma pregação em sua comunidade de fé, veja a pregação aqui.

[7] MUELLER, Ênio R. Teologia Cristã em Poucas Palavras. São Paulo: Editora Teológica; São Leopoldo, RS: Escola Superior de Teologia, 2005.

[8] Na verdade, Mueller divide a verdade em duas dimensões: verdade como conhecimento e verdade como existência. A verdade como conhecimento tem dois níveis: superficial e consciente (conhecimento proposicional), e profundo e inconsciente (metáforas fundantes). Entretanto, optei por dividir em três dimensões para que o texto se torne mais fluido e claro.

[9] Ibid.

[10] telos é uma palavra grega que significa objetivo, propósito, finalidade. Um “ser teleológico” é um ser que vive em busca de algo, vive para uma finalidade, um propósito.

[11] Para Smith, o coração não é, como entendido hoje, o órgão símbolo do “amor romântico”, mas, fundamentalmente, o órgão símbolo dos desejos. Apesar de não discutirmos sobre isso nesse artigo, é importante pontuar que essa é uma redução do significado do coração na Bíblia, pois ele é visto, a grosso modo, como vemos hoje o cérebro, ou seja, fonte dos afetos e dos desejos, mas também da racionalidade. Para maiores informações ver WOLF, Hans Walter. Antropologia do Antigo Testamento. Edições Loyola.

[12] SMITH, James K. A. Você é aquilo que ama, o poder espiritual do hábito. São Paulo: Vida Nova, 2017.

[13] Isso muito se parece com a narrativa de Gênesis 3. A meia verdade da serpente (v4–5) substituiu, ao ser acolhida, a imagem que o primeiro casal tinha de Deus e de si mesmos (v7), então o desejo desordenado entrou em jogo (v6a) e a transgressão aconteceu (v6b). Por consequência disso, houve uma deturpação da relação entre o ser humano e Deus (v8–10), que resultou na deturpação da relação dos seres humanos consigo mesmos (v7, 10), uns com os outros (v12, 16) e com a criação de Deus (v13b, 15, 17). Imagem, verdade, desejo, ação, todas relacionadas. A relação Deus-ser humano, ser humano consigo mesmo, ser humano-ser humano e ser humano-natureza todas interdependentes, partindo da relação fundamental Deus-ser humano.

[14] Um podcast que trabalha bem essa temática da revelação de Deus introdutoriamente é “O conceito bíblico de Deus”, do grupo Terceira Margem do Rio. Assista aqui.

[15] Ele é a imagem do Deus invisível (Cl 1.15, 2 Co 4.4), o logos divino que se fez carne e osso (Jo 1.1–14) e foi visto, ouvido e tocado (1 Jo 1.1–3), por meio de quem Deus falou, expressou sua glória e expressou com exatidão o seu ser (Hb 1.1–4). Jesus é, para nós, a face de Deus (2 Co 4.6) e também a nossa, de quem devemos nos revestir (Cl 3.10).

[16] O Pai, as Escrituras (AT) e as comunidades apostólicas (NT) dão testemunho a respeito de Cristo (Jo 5.37–39, Lc 24.27). Testemunho esse que o Espírito, que inspirou os profetas e seus textos, confirma aos nossos corações para que nós demos continuidade a esse fluxo, e nos tornemos testemunho vivo na contemporaneidade.

Este artigo serve como uma introdução, tanto para o artigo “Deus não é seu super poder”, quanto do esforço teológico, bíblico e pastoral que faremos aqui nesse canal com todos os nossos textos. Essa preocupação por uma imagem de Deus que seja, ao mesmo tempo, fiel e amorosa permeia toda a nossa produção teológica.

Veja aqui outro artigo do HTM em que discutimos, com outra abordagem, sobre as imagens e a verdade.

Davi Ramos Bahiense. Bacharel em Teologia pela FTSA e pastor na Igreja Evangélica Nazareno de São José dos Campos.

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